Antes de mais, saúdo o amigo leitor/a nesta primeira edição da rubrica “Pelos Caminhos de Portugal” de 2024. É verdade, o primeiro mês já passou … já lá vai, mas temos ainda mais 11 pela frente, faço votos de que tudo vá andando de acordo com os seus desejos,
quando isso não acontecer, não desespere, como dizia uma colega minha há alguns anos na rádio, pensamentos positivos, pois é isso mesmo, positividade na nossa mente, para encarar com coragem o que a vida no dia-a-dia nos reserva.
Mas … vá, vá, nada de lições de moral e vamos ao que interessa na primeira rubrica deste Novo Ano que ainda “gatinha”. Vamos levá-lo a conhecer alguns locais espalhados por Portugal onde se explorou ou se explora o sal-gema e ainda fazer uma visita guiada a uma gruta que se encontra a 230 metros de profundidade e a funcionar plenamente.
O sal tem acompanhado o ser humano desde tempos imemoriais abrindo rotas comerciais e criando cidades como, na Áustria, a de Salzburg, onde ainda se encontra em pleno funcionamento a mais antiga mina do mundo que teve o seu começo na Idade do Ferro, mil anos (1.000) AC., mas há registos de outras minas mais antigas datados de dois mil (2.000) AC que nos chegam da China.
O sal foi usado como moeda de troca de produtos, os soldados romanos recebiam parte do salário em sal, derivando daí o termo salário.
Na costa atlântica da Península Ibérica sempre se fez a exploração de sal. No primeiro documento que se conhece, datado de 959, a Condessa de Mumadona faz uma doação, ao Mosteiro de S. Salvador, de terras e marinhas de sal na zona de Aveiro. Há, contudo, achados arqueológicos revelando que o interesse pela exploração do sal é muito mais antigo naquele que é hoje o território português.
Do período romano chegaram até aos dias de hoje salgadeiras com 3 metros de comprimento com 1,5 de largura e de fundo o que diz que este comércio era bastante próspero. Depois da conquista cristã, o sal continuou a ser explorado no reinado do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques (1178), nas margens do Rio Mondego o que quer dizer que a água salgada subiria até Coimbra.
Outras regiões de Portugal foram grandes produtoras de sal na zona Norte, casos de Matozinhos, Vila do Conde, Porto, Caminha, esta até 1700.
Grande parte das marinhas produtoras daquele que foi chamado no passado de ouro branco, está desactivada, sendo, em contrapartida, paraíso de plantas hoje utilizadas na cozinha e de aves que por lá fizeram o seu habitat entre elas os pilritos, pintarroxos, colhereiros, pato e garça-real e flamingos.
Em actividade encontram-se ainda algumas marinhas e salinas (marinhas se estão mesmo à beira-mar, salinas se a água chega até aos tanques por caneiros) em Aveiro, Samouco, Alcochete e na Ria Formosa, em Tavira, também aproveitadas para a flor de sal, tanto em voga, para “turista” ver e desfrutar da actividade dos marnotos, existindo em algumas delas tanques só para tomar banho e flutuar como se se estivesse em águas do Mar Morto, ou “besuntar” o corpo com o lodo que segundo os entendidos faz bem ao corpo e à mente.
Além do sal marinho, temos o sal-gema, extraído de rochas formadas há 230 milhões de anos, sendo as mais conhecidas as salinas de Rio Maior, no sopé da Serra dos Candeeiros, exploradas pelos Templários, segundo documentos datados de 1177, mas com aproveitamento muito anterior a esse período.
Diz-se por aqueles sítios que tudo aconteceu num verão muito quente em que uma jovem pastora foi dar água ao gado e apercebeu-se que ao longo do ribeiro havia sal agarrado às ervas. Provou a água, era salgada e correu a dizer ao pai. Daí à abertura de poços para a extracção da água e formação as salinas foi um salto. Hoje são fonte de riqueza e boa atracação turística justificando uma visita ao parque natural da Serra dos Candeeiros.
Outras formações de sal-gema foram descobertas durante o século XX em diferentes lugares, Monte Real, Fátima, Pinhal Novo, Tavira, Loulé, tendo algumas sido exploradas temporariamente.
Na mina de Matacães no Pinhal Novo, aberta por volta de 1957, era injectada água dentro do poço que depois se extraía e seguia por uma conduta de 52km até a fábrica da soda em Santa Iria de Azóia. A mina foi encerrada em 2014, quando a fábrica foi vendida e deixou de fabricar, entre outros produtos, a água oxigenada.
Existem um pouco por Portugal fontes de água salgada que deram lugar ao estabelecimento de águas termais.
Chegamos ao Algarve, a Loulé, onde há minas, descobertas em meados do século XX, a laborar e que podem ser visitadas. A povoação durante um longo período de seca, começou a abrir poços mais fundos para encontrar o precioso líquido.
A água que deles vinha era salobra, estavam assim descobertas jazidas de sal-gema. Nos anos 60 começaram as prospecções e foram encontradas, a 230 metros de profundidade, as galerias de sal-gema.
Entre os anos de 1969 e 1980, o impacto da abertura de novas minas deu um verdadeiro impulso na economia local. Estando por essa altura as minas de São Domingos, em Mértola, em vias de encerramento, muitos dos que lá trabalhavam encontraram nelas uma oportunidade de não perderem o ganha-pão.
Os anos foram passando a tecnologia tornou-se cada vez mais sofisticada. Estas galerias, 30 metros abaixo do nível do mar com 40 km de extensão, começaram a operar em 1964 com uma exploração bastante intensa até 2018.
Nesse ano, a concessão da exploração foi entregue a nova empresa implementando a extracção com não-agressão do sub-solo e que, passados 54 anos, além da extracção do sal organiza visitas guiadas, exposições de arte, concertos e colóquios.
Descemos num elevador os 230 metros por baixo da Cidade de Loulé para explorar as suas entranhas e deparamos com toda a actividade mineira efectuada pelos trabalhadores. Nas galerias fica-se a saber como são desprendidos os blocos de sal que depois de moídos e embalados seguem para o seu destino. É uma oportunidade de ver as “entranhas” da terra, o que a mãe natureza oferece ao homem que dia a dia cada vez mais a destrói.
Uma experiência única na “única mina de sal-gema do país com extracção em túneis e não por salmoura.” Serão, com certeza, estas as cavernas que Júlio Verne descreve em algumas das suas obras.
Um artigo de consulta publicado no Marnoto “reza” assim: “Na Idade Média o sal era um artigo privilegiado, isento de qualquer imposto e de portagens. Não admira que tal (continua na pág. seguinte)
(continado da pág. anterior)
acontecesse, o sal Português sempre foi considerado até no estrangeiro de qualidade superior.
Portugal foi um país exportador, no reinado de D. Afonso Henriques, Aveiro fornecia sal para todo o território nacional e também exportava grandes quantidades. Mais tarde, no reinado de D. João I, foi permitida a exportação de sal do Algarve para Lisboa.
O sal Português era então vendido a preços superiores ao produzido nas minas da Europa Central. A sua importância foi tanta que, graças ao sal das salinas de Setúbal, Portugal pagou à Holanda, de acordo com o Tratado de 1669, 4.000.000 (4 milhões) de cruzados pondo assim termo ao conflito entre os dois países e libertando o Brasil da ocupação neerlandesa.
Entre os países que mais sal português consumiu, destaca-se a França, Holanda, Dinamarca, a Noruega o Reino Unido e a Suécia.”
Idalina Henriques