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PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL – NA ROTA DE TOMAR

Este mês de Setembro continuamos pelo centro de Portugal, deixamos o Oeste e vamos em direcção ao interior, Distrito de Santarém, uma viagem pela cidade Templária, a presença humana por aqui tem uns largos milhares de anos de acordo com as descobertas que os arqueólogos tem posto a nu.

Tomar, conforme as civilizações que foram passando pelas margens do Rio Nabão foi mudando de nome, já na era Cristã os romanos no século I d.C. o Imperador Augusto, baptizou a povoação de Sellium; mais de 200 anos depois, os Visigodos chamaram-lhe Naba.

O declínio visigodo começou por volta de 700 d.C., a conquista pelos Mouros foi fácil, o lugar que já se encontrava em desenvolvimento cresceu mais ainda, foram edificados postos de vigilância, onde mais tarde foi construído o castelo, entre eles a Porta de Almedina, (entrada da cidade), rebaptizada pelos Muçulmanos de Thamara, que significava doces águas.

Tornou-se rapidamente uma povoação próspera, foram plantadas pela primeira vez laranjeiras e construídas as primeiras azenhas para regas.

Com a conquista de D. Afonso Henriques, em 1147, estas terras foram doadas aos Templários como feudo, com Dom Gualdim Pais, Mestre da Ordem começou a ser construído o Castelo e o Convento que viria a ser a sede da Ordem.

Mais tarde, D. Gualdim País, recebe de D. Afonso Henriques o foral, com a responsabilidade de os Monges defenderem estas terras, nesta altura já mais uma vez o nome tinha sido mudado para Thomar, por volta de 1190, os Mouros atacaram os Monges, mas estes souberam-se defender.

No século XIV, o Papa Clemente, dissolveu a Ordem, D. Diniz, o Lavrador, acabou por convencer o Papa a criara uma nova Ordem, a Ordem de Cristo, que recebeu todos os bens pertencentes aos Templários, o Grão-Mestre passou a ser nomeado pela Igreja.

Mesmo com a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida pelos Cavaleiros Templários, terem desaparecido por quase toda a Europa, o nome dos Templários pelo menos em Portugal, em Tomar, perdurou através dos tempos e da história e o nome continua bem vivo, nesta cidade Ribatejana.

Ligado a Tomar e ao Convento de Cristo ficou para sempre o Infante D. Henrique, no século XV foi um dos renovadores do Convento e da própria cidade, mais tarde com a expulsão dos judeus de Espanha muitos se refugiaram por aqui, criando desenvolvimento com os ofícios, que foram de grande importância nos descobrimentos, a mando do Infante foi construída a Sinagoga que ainda existe, hoje é o Museu Luso-Hebraico com o nome de Abraão Zacuto.

É nesta cidade Templária, abraçada pelo rio Nabão que se realiza um dos festejos mais antigos de Portugal a Festa dos Tabuleiro em Honra do Divino Espírito Santo, tem lugar de quatro em quatro anos, tudo leva a querer que a sua raiz está ligada a cerimónias relacionadas com a Deusa Ceres protectora das colheitas, onde se celebrava a partilha.

A Rainha Santa Isabel e D. Diniz, conseguiram com autorização Papal integrar algumas das festividades pagãs nos Festejos em Honra do Espírito Santo.

Tomar, devido à existência dos Templários foi vista como uma cidade herege, com a extinção da Ordem e com a intervenção dos Reis de Portugal, nasceu aquele que é um cartaz de visita da Cidade e de Portugal, um dos maiores e mais belos festivais realizados em todo o Mundo.

Os festejos têm ao longo dos anos aumentado a sua duração, este ano tiveram lugar entre os dias 1 e 10 de Julho, embora o desfile dos tabuleiros seja o ex-líbris de todas festividades, muitos outros eventos se lhe juntam desde o desfile dos rapazes, crianças, também elas com os seus pequenos Tabuleiros, abertura oficial das ruas atapetadas de flores que fazem uma perfusão de cores, Procissão das Coroas e Pendões do Espírito Santo, que tiveram a sua primeira saída no Domingo de Páscoa, depois do desfile dos Tabuleiros, a distribuição pelos mais necessitados dos pães que foram benzidos a que se juntam mais alguns bens de primeira necessidade, a esta cerimónia chama-se a distribuição da Pêza.

Cada Tabuleiro que a mordoma carrega à cabeça pesa entre 15 a18 kg, tem a particularidade de terem a altura da jovem, embora esta seja acompanhada por um rapaz, que ajuda em caso de necessidade, é a ela que compete levar o tabuleiro com os pães, devidamente decorado e encimado com a Coroa do Espírito Santo ou com uma Pomba, que tem o mesmo significado, o acompanhante vestido de forma simples tem que ter a gravata da cor das fitas do traje da jovem que é branco, as fitas representam a freguesia a que pertencem.

Estes festejos levam até Tomar milhares de forasteiros idos de todo o País e de todo o Mundo, para além das festividades religiosas, juntam-se exposições, entretenimento variado, concertos com grandes nomes de cartaz nos parques da Cidade. Se a gastronomia é um dos cartazes apetecíveis de qualquer local por aqui também faz as suas honras, as couves à D. Prior, que quando me disseram levavam pinhões, toucinho entre outros ingredientes para além das couves, “torci o nariz”, mas são uma especialidade que vem segundo dizem de tempos medievais, coelho na abobora, feijoada de caracóis, sável, lampreia e enguias, papas de milho com sardinhas, os doce, as deliciosas “Fatias de Tomar”, “Bolos de cama” e ainda os “Beija-me depressa”, são autênticas delícias a que se juntam os tradicionais doces de amêndoa, de ovos entre muitas outras iguarias da nossa confeitaria.

Mas não são só as Festas dos Tabuleiros que atraem visitantes a esta linda cidade do Ribatejo, o Castelo lá no alto em permanente vigia, o Convento de Cristo, Património Mundial da UNESCO há precisamente 30 anos, onde se pode apreciar entre outros pontos a Charola dos Templários, uma maravilha da arquitectura, que descreve a Rotunda do Santo Sepulcro, a janela Manuelina que vista de perto e com atenção, lemos nela a nossa História, Igrejas, o imponente Aqueduto de Pegões, Monumentos espalhados um pouco por toda a parte antiga, a Praça da República com edifícios datados de 1600 e 1700 com os seus magníficos azulejos, o Paço Real de D. Manuel I, hoje a Câmara Municipal e ainda um Museu pouco vulgar, o dos Fósforos, um passeio pela rua da Judiaria vale pena.

Quem anda por terras dos Templários tem que fazer uma visita à aldeia de Dornes, terra de milagres em que a sua história é muito maior que a sua superfície, tudo por aqui respira paz e tranquilidade.

Muito ficou para dizer desta terra que depois da visita da Rainha D. Maria II, em 1844, a elevou a Cidade sendo a primeira cidade do distrito de Santarém.

Por aqui apesar de estarmos a mais de 10 mil Km de distância, também temos os nossos colaboradores, desta vez foi uma “fotógrafa”, Sónia Gonçalves, uma “torrejana” de alma e coração que atendeu “à cunha” do tio, um membro da “Família Fórum” e nos enviou um lote alargado de fotografias exclusivas da Festa dos Tabuleiro 2023, Voz Portuguesa agradece!

Cidade antiquíssima muitas lendas se escondem por aqui em cada canto rua e ruelas, hoje deixamos–lhe a Lenda de Santa Iria, uma das mais conhecidas e das mais pequenas também.

 ”Conta a história que na antiga Nabância (Tomar) nasceu Iria, uma bela jovem. Desde cedo, Iria descobriu a sua vocação religiosa e entrou para um mosteiro. A região era governada pelo príncipe Castinaldo, cujo filho Britaldo tinha por hábito compor trovas junto da igreja de S. Pedro.Um dia, Britaldo viu Iria e ficou perdidamente apaixonado por ela. Ficou doente de amor e, em estado febril e desesperado, reclamava a presença da jovem. Temendo o pior, os pais foram buscá-la. Iria pediu-lhe que a esquecesse, porque o seu coração e o seu amor eram de Deus.Britaldo concordou, sob a condição de que ela não pertencesse a mais nenhum homem. Passados tempos, Britaldo ouviu rumores infundados de que Iria tinha atraiçoado a sua promessa e amava outro homem. Furioso, seguiu-a num dos seus habituais passeios ao rio Nabão, apunhalou-a e atirou o seu corpo à água.O corpo de Iria foi levado pelas águas até ao Zêzere e daí ao Tejo. Foi encontrado junto da cidade de Scalabis (Santarém), encerrado num belo sepulcro de mármore. O povo rendeu-se ao milagre e, a partir de então, a cidade passou a chamar-se de Santa Iria, mais tarde Santarém.Cerca de seis séculos depois, as águas do Tejo voltaram a abrir-se para revelar o túmulo à rainha D. Isabel, que mandou colocar o padrão que ainda hoje se encontra na Ribeira de Santarém.”

Espero que tenha gostado da viagem que hoje lhe proporcionamos, fica encontro marcado o próximo mês de Outubro, levamo-lo até às vindimas, que este ano devido às alterações climáticas, começaram já a meados de Agosto na região do Douro.

Idalina Henriques

Fotos: F. Tabuleiros, Sónia Gonçalves (Obrigada pelo carinho)

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