Por Idalina Henriques
Com certeza que conhece a fama dos ananases dos Açores, por serem suculentos e muito doces, este fruto foi trazido do Brasil, pelas mãos dos portugueses depois da sua redescoberta, mas chegou até aos Açores como sendo uma planta decorativa, só passados alguns anos é que se chegou à conclusão que era uma fruta com alto valor nutritivo, começando por ser cultivada em vasos nas casas de famílias abastadas.
Para sabermos um pouco mais da sua história transcrevemos na íntegra a história dos ananases Arruda que nos foi gentilmente enviada pela bisneta do fundador, Dr. Augusto Arruda, a Drª Catarina Arruda que exerceu a função de Cônsul-geral na Cidade do Cabo, hoje é Embaixadora de Portugal na Colômbia em Bogotá. É mais uma das Mulheres Portuguesas pelo Mundo a Honrar de Portugal que não esquece o Jornal que a acompanhou durante o tempo que esteve por a África do Sul, contínua igual à Cônsul que conhecemos, para ela vão os agradecimentos pelo carinho com que nos continua a tratar.
Plantação Ananases Augusto Arruda
Inserida numa antiga quinta da Laranjas, fruto este exportado em grandes quantidades no séc. XIX, a
Plantação de Ananases Augusto Arruda é reconhecida como um ponto de visita obrigatório na ilha de
São Miguel. No início do século XX, o Dr. Augusto Arruda transformou uma antiga propriedade de
família, na sua residência habitual e, também, numa das mais importantes plantações de ananases
da ilha.
De raiz, a plantação, na sua construção e planeamento, foi criada para obter os melhores resultados
de cultivo bem como para poder ser visitada por turistas, privilegiando o carácter demonstrativo.
Na primeira metade do século XX, a Plantação foi um dos maiores exportadores de ananases para
todo o mundo. Depois da 2ª Guerra Mundial, a Plantação foi progressivamente centrando a sua
atividade no Turismo, mantendo uma atenção especial na preservação dos métodos originais de
produção. Hoje, a Plantação de Ananases Augusto Arruda, que se mantém propriedade da família do
seu fundador e já na 3ª geração, afirma-se como de importância para o turismo da Região Autónoma
dos Açores e um dos locais mais visitados da ilha de São Miguel.
O método de cultivo do Ananás dos Açores é único no mundo. Originário da América Central e do
Sul, foi introduzido nos Açores em meados do século XIX. Na segunda metade do século XIX, a
principal produção agrícola da ilha, a Laranja, é atacada por uma praga, levando os grandes
proprietários rurais a uma batalha pela sua substituição como fonte de rendimento. O Ananás
assume, então, esse papel, alcançando rapidamente o estatuto de principal produto de exportação
da ilha no virar do século XX. A cultura do ananás de São Miguel é um exemplo vivo e uma
homenagem ao engenho e inventividade do homem. Os seus particulares métodos de cultivo em
estufas de vidro caiado e recorrendo ao método das chamadas “camas quentes”, procuram recriar,
num ambiente artificial, as características naturais próprias dos climas húmidos e quentes de onde
este fruto é originário.
As estufas são de formato retangular, construídas em madeira e vidro, com dois canteiros separados
por um caminho de pedra. Nos canteiros, a terra é preparada num processo que se convencionou
chamar de “camas quentes”, onde uma mistura de terras e matérias orgânicas vegetais enriquece o
solo, e onde através de rega e da decomposição natural, cria dentro da estufa as temperaturas
necessárias ao natural crescimento da planta e do fruto.
Cerca de 4 meses após a plantação definitiva tem lugar a operação do “fumo”. Esta operação,
descoberta ocasionalmente, funciona como uma intoxicação da planta o que obriga todas as plantas
a florescerem ao mesmo tempo permitindo assim uma colheita mais homogénea. Ao fim do dia, em
recipientes próprios, queimam-se aparas e folhas de modo a produzir um espesso fumo que invade
toda a estufa, no dia seguinte as janelas são abertas para permitir o arejamento. Esta operação dura
cerca de oito a dez dias conforme as estações do ano. Em média o ciclo completo da cultura do
ananás de São Miguel dura de 18 a 24 meses e o resultado final é um fruto de características únicas e de reconhecida qualidade.
Estas estufas encontram-se na família há três gerações, das estufas do passado são poucas as que sobreviveram até hoje, e, as existentes encontram-se em muito mau estado de conservação.
Depois de muitos anos, o ananás dos Açores vê finalmente reconhecida a sua qualidade pela Comissão Europeia, em Julho de 1996, passa a ter marca protegida com a denominação de Origem Ananás/Açores.
Quando comprar um ananás não se esqueça, que foram precisos dois anos para se poder deliciar com este presente que a mãe natureza nos oferece, criado um pouco pelo “mundo tropical”, mas o melhor de todos é nosso… é português… é dos Açores!..